Para o preparo da terra, os agricultores fazem a limpeza e queimam aguardando o período de plantio. No Cariri, como as chuvas começam mais cedo do que em outras regiões do Estado, aumentam os focos de fogo e queimadas

Meu Padim sempre dizia:
"Não broquem sem precisão,
plantem sempre todo dia
qualquer coisa nesse chão...
Se tiverem que brocar
pra botar novo roçado,
não vão atrás de arrancar
o toco que foi cortado.
Quem arranca a tocaria
desmancha toda ingrisia
que o Senhor fez com cuidado"...
O padre Cícero e a Ecologia, do poeta William Brito



Novembro é mês do agricultor preparar a terra para o plantio na Região do Cariri. No Sul do Estado, o período chuvoso começa mais cedo e, geralmente, em dezembro, já ocorrem as primeiras precipitações. Nas demais regiões do Ceará, a quadra chuvosa, em geral, é a partir de fevereiro. Fazer a broca é uma prática muito antiga assim como a queima do terreno. O agricultor limpa e roça, depois usa o fogo para renovar a área e remover material acumulado. É uma alternativa usada em todo o País e mesmo técnicos de órgãos de meio ambiente acreditam ser difícil substituir totalmente essa prática. Até a última sexta-feira, 10, o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE) identificou, por satélite, 230 focos de fogo no Ceará, com a maioria localizada na Região do Cariri.

"É impossível fazer o controle e impedir porque trata-se de uma cultura do povo. Nesse mês, de acordo com a climatologia, é período que antecede às chuvas na região, por isso o agricultor broca e utiliza o fogo para recomeçar o plantio", diz o chefe da Unidade do Instituto Brasileiro de Meio de Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no Cariri, Eraldo Oliveira. Ele diz que a Unidade do Ibama no Ceará, dispõe de um programa batizado de Prevfogo com homens que fazem a prevenção de incêndios usando satélites.

A brigada é composta de mais de 20 homens que ficam atentos aos focos de fogo e às queimadas. "Os focos no período de preparo da terra pelo agricultor pode se transformar num incêndio e com riscos de atingir a Floresta Nacional do Araripe (Flona), por isso é preciso que se fique atento e se oriente os agropecuaristas", diz Eraldo. Ele recebeu a denúncia da ocorrência de um grande incêndio na zona rural de Granjeiro, na Região do Cariri, e está enviando fiscais para lá a fim de detectar as causas.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que mapeiam os focos de fogo, incêndios e queimadas, confirmam que o período de junho a novembro é quando ocorre o maior número de queimadas na maioria das regiões, com maior ou menor intensidade. Mato Grosso e Pará são os estados brasileiros mais atingidos. Numa pesquisa realizada nesse período, durante 10 anos, por satélite, para apoiar ações do Ministério da Agricultura, identificou-se os locais mais atingidos pelas queimadas, consideradas preocupantes. O monitoramento revela a existência de cerca de 300.000 queimadas por ano, em todo o Brasil e, no geral, ocorrem em áreas já desmatadas.

Rita Célia Faheina  da Redação

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